As origens da filosofia ocidental - Pré-Socráticos

 

As raízes da filosofia ocidental estão no trabalho dos filósofos gregos durante os

séculos V e VI. Esses filósofos, chamados de pré-socráticos, começaram a

questionar o mundo em torno deles. Em vez de atribuir o que os cercava aos

deuses gregos, eles buscaram explicações mais racionais que pudessem explicar

o mundo, o universo e a existência.

Era a filosofia da natureza. Os filósofos pré-socráticos questionavam de onde

veio tudo, a partir de que tudo foi criado, como a natureza podia ser descrita

matematicamente e como alguém poderia explicar a pluralidade da natureza.

Eles buscavam encontrar um princípio fundamental, conhecido como arqué, que

seria o material básico do universo. Como tudo no universo muda ou não

permanece no mesmo exato estado, os filósofos pré-socráticos determinaram

que deviam existir princípios de mudança contidos na arqué (elemento básicos na constituição da natureza).


O QUE SIGNIFICA PRÉ-SOCRÁTICO?


O termo pré-socrático quer dizer “antes de Sócrates” e foi popularizado em 1903

pelo estudioso alemão Hermann Diels. Na verdade, Sócrates foi contemporâneo

dos filósofos pré-socráticos e, assim, o termo não significa que os pré-socráticos

viveram antes dele. Em vez disso, a expressão pré-socrático refere-se às

diferenças na ideologia e nos princípios. Embora muitos filósofos pré-socráticos

tenham produzido textos, nenhum foi preservado integralmente e a maior parte

do que sabemos sobre eles baseia-se em fragmentos e nas citações posteriores

de historiadores e filósofos — que, em geral, são tendenciosas.


AS ESCOLAS PRÉ-SOCRÁTICAS MAIS IMPORTANTES

Escola de Mileto

Os primeiros filósofos pré-socráticos viveram na cidade de Mileto, próxima à

costa da Anatólia (na moderna Turquia). De lá surgiram três importantes

filósofos pré-socráticos: Tales, Anaximandro e Anaxímenes.


Tales

Um dos filósofos pré-socráticos mais importantes, Tales (624-546 a.C.)

proclamava que a arqué — ou o elemento original — era a água. Ele determinou

que a água podia passar por mudanças como a evaporação e a condensação e,

dessa forma, tornava-se gasosa ou sólida. Ele sabia que a água era responsável

pela hidratação e pela alimentação humanas e acreditava que a terra flutuava

sobre ela.

Anaximandro

Depois de Tales, o próximo grande filósofo vindo de Mileto é Anaximandro

(610-546 a.C.). Ao contrário de Tales, ele dizia que o elemento original era, na

verdade, uma substância indefinida e ilimitada, denominada ápeiron. Era a partir

disso que os opostos como o seco e o molhado, e o frio e o quente, separavam-se

um do outro. Anaximandro é o primeiro filósofo que conhecemos que deixou

trabalhos escritos.

Anaxímenes

O último grande filósofo pré-socrático da Escola de Mileto foi Anaxímenes

(585-528 a.C.). Ele acreditava que o único elemento era o ar. De acordo com

Anaxímenes, o ar está em toda parte e tem a capacidade de passar por

processos e transformar-se em outra coisa, como água, nuvens, vento, fogo e até

mesmo a terra.

Escola pitagórica

O filósofo e matemático Pitágoras (570-497 a.C.), talvez mais famoso por

causa do teorema que leva seu nome, acreditava que a base de toda a realidade

estava nas relações matemáticas, que governavam o mundo. Para Pitágoras, os

números eram sagrados e, com o uso da matemática, tudo podia ser medido e

previsto. O impacto e a imagem de Pitágoras foram impressionantes. Sua escola

era cultuada e seus seguidores obedeciam cada palavra que ele emitia... até

mesmo algumas regras estranhas que cobriam todas as áreas, desde o que

comer e o que não comer, como se vestir e até mesmo como urinar. Pitágoras

filosofou em muitos campos e seus alunos acreditavam que seus ensinamentos

eram profecias dos deuses.


Escola de Éfeso

A escola de Éfeso baseava-se no trabalho de um homem, Heráclito de Éfeso

(535-475 a.C.), que acreditava que tudo na natureza está em mudança constante

ou em estado de fluxo. Talvez ele seja mais famoso por sua noção de que nenhum

homem é capaz de entrar no mesmo rio por duas vezes. Heráclito acreditava

que o elemento original era o fogo e que, portanto, tudo derivava dele.


Escola eleática

A escola eleática ficava em Cólofon, uma cidade antiga não muito distante

de Mileto. Dessa região, vieram quatro importantes filósofos pré-socráticos:

Xenófanes, Parmênides, Zenão e Melisso.


Xenófanes de Cólofon

Xenófanes (570-475 a.C.) é conhecido por sua crítica à religião e à mitologia.

Particularmente, ele atacava a ideia de que os deuses eram antropomórficos (ou

seja, assumiam a forma humana). Xenófanes acreditava que havia um só deus e

que, embora não pudesse se mover fisicamente, tinha a habilidade de ouvir, ver,

pensar e controlar o mundo com seus pensamentos.


Parmênides de Eleia

Parmênides (510-440 a.C.) acreditava que a realidade não tinha nada a ver

com o mundo vivenciado por alguém e que somente pela razão, não pelos

sentidos, era possível chegar à verdade. Parmênides concluiu que o trabalho dos

primeiros filósofos de Mileto não era apenas ininteligível, mas partia de questões

equivocadas. Para Parmênides, não havia sentido em discutir o que é e o que não

é. Para ele, o único ponto inteligível a debater, e a única verdade, é o que é (o que

existe).

Parmênides teve um impacto inacreditável sobre Platão e toda a filosofia

ocidental. O trabalho dele tornou a escola de Eleia o primeiro movimento a

utilizar a razão pura como o único critério para encontrar a verdade.


Zenão de Eleia

Zenão de Eleia (490-430 a.C.) foi o aluno mais famoso de Parmênides (e

possivelmente seu amante) e que dedicou seu tempo à criação de argumentos

(conhecidos como paradoxos) para defender as ideias de seu mestre. No mais

relevante paradoxo de Zenão, o do movimento, ele tenta demonstrar que o

pluralismo ontológico — a ideia de que muitas coisas existem por oposição à

outra — pode realmente levar a conclusões absurdas. Parmênides e Zenão

acreditavam que a realidade existia como um todo único e que as noções de

pluralidade e movimento não passavam de ilusões. Embora o trabalho de Zenão

tenha sido refutado mais tarde, seus paradoxos ainda levantam questões

importantes, desafios e servem de inspiração para filósofos, físicos e

matemáticos.


Melisso de Samos

Melisso de Samos, que viveu por volta de 440 a.C., foi o último filósofo da

escola eleática. Ele deu continuidade às ideias de Parmênides e Zenão. Melisso

de Samos distinguiu ser e parecer. Quando algo é X, de acordo com Melisso de

Samos, tem sempre que ser X (e nunca não ser X). Dessa forma, segundo essa

noção, quando algo é frio nunca pode deixar de ser frio. Como, porém, não é esse

o caso, e as propriedades não se mantêm indefinidamente, nada (exceto na

realidade de Parmênides, que é uma coisa contínua e imutável) é na verdade;

em vez disso, tudo parece.


Escola atomista

A escola atomista, iniciada por Leucipo no século V a.C. e levada adiante

por seu aluno Demócrito (460-370 a.C.), propunha que todo objeto físico é

feito por átomos e vácuo (espaço vazio em que os átomos se movem), que se

organizavam em diferentes formas. Essa ideia não está muito distante do

conceito de átomo atual. Essa escola acreditava que os átomos eram partículas

extremamente pequenas (tão diminutas que não podiam ser cortadas ao meio)

com diferentes tamanhos, formas, movimentos, arranjos e posições e que, quando

colocados juntos, criavam tudo o que está no mundo visível.


Kleinman, Paul

Tudo que você precisa saber sobre filosofia: de Platão e Sócrates até a ética e

metafísica, o livro essencial sobre o pensamento humano / Paul Kleinman;

tradução Cristina Sant'Anna. – São Paulo: Editora Gente, 2014.

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